Produto indispensável na mesa dos brasileiros, o café arábica vive a sua maior valorização no mercado internacional dos últimos 12 meses. Agora em agosto o valor da saca atingiu R$ 1.400, uma alta de quase 70% na comparação com o mesmo período do ano passado. O arábica é um dos grãos especiais de café produzido principalmente no Sul de Minas, São Paulo e Paraná, sendo conhecido pelo seu sabor mais apurado.
Segundo a Faemg, Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais, essa valorização está ligada às alterações climáticas e à pior seca dos últimos 80 anos que atingiu o Vietnã. O país do sudeste asiático é o principal produtor de café robusta no mundo, outro tipo muito procurado.
Por causa disso, o mercado internacional passou a suprir a demanda a partir do nosso café brasileiro. Por exemplo, apenas a Bélgica dobrou os pedidos, entre janeiro e julho deste ano, totalizando 1,6 milhão de sacas compradas dos produtores mineiros.
O presidente da Comissão Técnica de Café da Faemg, Arnaldo Botrel, explica, ainda, que a safra atual do café arábica também foi menor do que o esperado, o que ajudou na valorização.
‘Outro fator relevante foi que para o nosso café arábica, a nível Minas Gerais, faltou muita chuva para a safra atual num período crucial. Principalmente nas lavouras que não são irrigadas, faltou chuva quando o grão de café começa a encher, a tomar formato e até ficar adulto. Isso ocorreu entre dezembro de 2023 e fevereiro deste ano. Assim, os grãos ficaram menores e consequentemente você gasta mais grãos para se fazer 1 kg de café, um saco de café. Ou seja, tivemos menos produção de arábica também’, explicou.
No Brasil, produtores comemoram a valorização recorde do grão, pois agora estão conseguindo recuperar parte dos prejuízos das últimas safras. É o caso de Guilherme Frota, que é produtor de café arábica em Varginha, no Sul de Minas, região responsável por 35% da produção nacional.
‘Suprir todas as perdas é difícil, porque agricultura é assim, a gente trabalha com ganhos e perdas. Mas com certeza é um alívio, porque você consegue pagar as contas em dia. Você não consegue ficar 100% sem dever nada, mas pelo menos tem uma perspectiva de um ano um pouco mais tranquilo pra frente e ir liquidando realmente os compromissos que a gente tem e não param de vencer’, disse.
Se por um lado a valorização da commodity é boa para os produtores, por outro, o mercado interno também acaba sentindo a variação de preços. Nos supermercados, padarias ou cafeterias, a alta do café já está em curso. Segundo dados do IBGE, a inflação acumulada nos últimos 12 meses sobre o café moído é de 12,79% e de 4,32% no caso do solúvel.
Consumidores também podem começar a sofrer com aumentos expressivos nos próximos meses. — Foto: Débora Costa
Como consumidor, Leonardo Conceição fica de olho nessa variação de preços na hora de fazer as compras pra casa e já vem adotando medidas para driblar o aumento do produto.
‘Nesse ano, eu já tenho notado que o preço do café vem subindo bem acima da inflação. E para compensar isso aí, eu tenho tentado diminuir um pouco o meu consumo de café e procurado algumas marcas que sejam de boa qualidade e com preço mais reduzido no mercado’, contou.
Para a próxima safra, os produtores brasileiros já temem impactos também dessas alterações climáticas. Isso se explica devido ao cenário atual de seca no país, que pode se agravar e impactar a florada do grão, que começa em outubro.
O professor de economia rural da Universidade Federal de Lavras Renato Fontes afirma que, se isso ocorrer, os preços podem ficar em patamares elevados e atingir em cheio os consumidores.
‘O mercado vai trabalhar com a perspectiva, ou seja, à medida que os meses vão passando e a situação climática vai determinando, o mercado vai especulando e trabalhando com informações de queda de oferta e, assim, os preços tendem a se elevar. Só que não existe um patamar de preços, então se hoje está em R$ 1.400, você pode chegar ali em novembro com a situação agravada e o preço em R$ 1.800 ou R$ 2.000 a saca. Agora, se o clima correr bem, aí a expectativa é dos preços não subirem mais. À medida que vai chegando próximo da colheita do ano que vem, os preços podem declinar’.
Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais, a melhor perspectiva dos produtores de café arábica é de conseguir ao menos repetir, em 2025, a safra atual estimada em 54 milhões de sacas.