O ditador Nicolás Maduro quer proibir o WhatsApp na Venezuela. Pode parecer até ridículo, mas Maduro não está sozinho. Alguns dos principais países que o apoiam, como China, Rússia e Irã, também detestam aplicativos de mensagens.
O cenário internacional está ajudando e protegendo a ditadura venezuelana. O sistema de relações internacionais, até aqui liderado pelos Estados Unidos e a aliança ocidental, está se desfazendo. O principal bloco de contestação dessa ordem é conduzido exatamente por China e Rússia, em escala planetária.
Essa profunda mudança geopolítica já criou uma proliferação de unilateralismos. Isto é, atores regionais sentem-se livres de amarras para fazer o que bem entendem. Isso ocorre no Oriente Médio e é o que Maduro faz. Trata-se, no fundo, de uma espécie de anarquia, num ambiente de desordem imprevisível.
O espírito de nossa época é do autoritarismo em todas as suas vertentes, inclusive dentro das tradicionais democracias abertas e liberais. Nesse sentido, o apoio tácito que o Brasil dá à Venezuela equivale a operar reconhecendo que a ordem americana não existe mais e que seus desafiantes é que levam vantagem.
É o que transformou os BRICS, por exemplo, de um clube de emergentes num braço da China. Para o Brasil, a Venezuela não é só um problema de política doméstica que ajuda a definir quem leva de fato a sério o respeito a princípios democráticos. É a mesma questão no cenário global.
Pretender uma ordem internacional mais justa, como o Brasil sempre quis, é uma coisa. Parecer estar ao lado de autocratas interessados em destruir a atual, é outra.