As tensões entre Israel e o grupo militante libanês Hezbollah atingiram novos patamares na sequência de um ataque mortal com foguetes nas Colinas de Golã ocupadas por Israel.
De acordo com Israel, o ataque de sábado (27) atingiu um campo de futebol na cidade árabe de Majdal Shams, lar de uma grande comunidade drusa, e matou pelo menos 12 crianças.
Israel culpou Hezbollah pelo ataque e prometeu vingança. O grupo apoiado pelo Irã negou envolvimento com o episódio em questão.
Aqui está o que você deve saber sobre as Colinas de Golã e a minoria religiosa e étnica drusa que foi vítima do ataque.
As Colinas de Golã são um planalto estratégico que Israel conquistou da Síria durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, antes de anexá-lo formalmente em 1981. A paisagem montanhosa, que se estende por cerca de 1295 quilômetros quadrados, também faz fronteira com a Jordânia e o Líbano.
A capital da Síria, Damasco, é visível do topo de Golã. A parte da região ocupada por Israel está separada da Síria por uma zona-tampão (faixa de terra) apoiada pelas Nações Unidas.
As Colinas de Golã são consideradas território ocupado sob direito internacional e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU, e a Síria continua exigindo sua devolução.
A área tem sido frequentemente um ponto de conflito, o mais recente tendo ocorrido em 2019, quando o ex-presidente Donald Trump disse que os Estados Unidos reconheceriam a soberania de Israel sobre as Colinas de Golã – uma medida que derrubou anos de diplomacia política e agravou as tensões com a Síria.
Israel vê as Colinas de Golã como fundamentais para os seus interesses de segurança nacional e diz que precisa controlar a região para se defender das ameaças da Síria e de grupos aliados ao Irã.
O ataque de sábado (27) não é o primeiro nas Colinas de Golã desde que a guerra de Israel contra o Hamas em Gaza começou, após os ataques de 7 de outubro.
No início de julho, um ataque com foguetes do Hezbollah matou duas pessoas na região, o que levou o chefe do Conselho Regional de Golã em Israel a apelar à retaliação “com força” contra o grupo libanês. O Hezbollah havia dito anteriormente que disparou dezenas de foguetes Katyusha nas Colinas de Golã “em resposta” a um suposto ataque israelense na Síria contra um membro importante do Hezbollah.
Quem são os drusos?
Os drusos são uma comunidade árabe de cerca de um milhão de pessoas que vivem principalmente na Síria, no Líbano e em Israel. Originário do Egito no século XI, o grupo pratica uma ramificação do Islamismo que não permite conversões – quer de ou para a religião – e nem casamentos mistos.
Mais de 20.000 drusos vivem nas Colinas de Golã. A maioria deles identifica-se como sírios e rejeitou uma oferta de cidadania israelense quando Israel tomou a região em 1967. Aqueles que recusaram, receberam cartões de residência israelense, mas não são considerados cidadãos.
O Conselho Regional de Majdal Shams afirmou à CNN que nenhum dos drusos mortos no ataque de sábado (27) no campo de futebol tinha cidadania israelense.
Os drusos das Colinas de Golã compartilham o território com cerca de 25.000 judeus israelenses, espalhados por mais de 30 assentamentos. No ano passado, o Conselho de Direitos Humanos da ONU ecoou alarmes sobre o plano de Israel de duplicar sua população em Golã até 2027.
Os drusos sírios em Golã sofreram com políticas discriminatórias, especialmente aquelas relacionadas com a atribuição de terras e água, segundo dados do Comitê das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial.
“Ao longo dos anos, a expansão de israelenses e suas atividades reduziram o acesso dos agricultores sírios à água, devido a políticas discriminatórias relacionadas com preços e taxas”, afirmou o Comitê da ONU.
Os drusos nas Colinas de Golã historicamente se opuseram às leis israelenses, consideradas por eles, como tentativas de “uma imposição cultural”. Em 2018, milhares de manifestantes liderados por drusos opuseram-se à Lei Básica do Estado-Nação Judaico apresentada pelo parlamento israelense, temendo que a discriminação fosse aprofundada.
A lei estabeleceu Israel como o lar histórico do povo judeu, com uma Jerusalém “unida” como capital e declarou que o povo judeu “tem o direito exclusivo à autodeterminação nacional” em Israel.
Os líderes drusos da época disseram que a controversa lei os fazia sentir como cidadãos de segunda classe porque não mencionava a igualdade ou os direitos das minorias.
Dados recentes divulgados na mídia israelense mostram um aumento no número de drusos de Golã que buscam a cidadania israelense, mas os números permanecem extremamente pequenos: 75 em 2017 e 239 em 2021.
Fora de Golã, cerca de 130 mil drusos israelenses vivem no Carmelo e na Galileia, no norte de Israel.
Em contraste com outras comunidades minoritárias dentro das fronteiras de Israel, muitas são ferozmente patriotas. Homens drusos com mais de 18 anos foram recrutados para as FDI desde 1957 e muitas vezes ascendem a posições de alto escalão, enquanto muitos constroem carreiras na polícia e nas forças de segurança.
*Zeena Saifi da CNN em Majdal Shams, nas Colinas de Golã, contribuiu para esta matéria.