Em entrevista ao Jornal da CBN, a especialista em relações internacionais Cristina Pecequilo analisa o ataque contra Donald Trump, seu contexto histórico e implicações para as eleições nos Estados Unidos.
O ex-presidente dos Estados Unidos e atual candidato à presidência, Donald Trump, sofreu um atentado a tiros neste sábado (13) durante um comício na cidade de Butler, no estado da Pensilvânia. O FBI identificou e matou o atirador envolvido na tentativa de assassinato, Thomas Matthew Crooks. Para a colunista da CBN Cristina Pecequilo, doutora em Ciência Política pela USP e professora de relações internacionais da Unifesp, Trump “é um homem de mídia” e sua campanha fará com que a tentativa de assassinato seja “longamente aproveitada”. Ouça a entrevista completa e confira os destaques abaixo:
Pecequilo ressalta que Trump já estava em uma boa posição na campanha, enquanto Biden é pressionado para desistir, e o episódio violento pode fazê-lo crescer ainda mais entre os eleitores. “As pesquisas já se mostravam razoavelmente favoráveis a ele. O debate levou isso para um lado mais positivo ainda para ele.”
Veja momento em que Trump é escoltado para fora do palco
Cristina Pecequilo destaca que, apesar de ser importante “não cair em teorias da conspiração” e entender a gravidade dos fatos, o atentado teve uma estrutura de marketing para mostrar Trump como um “sobrevivente”, de forma “muito teatralizada”:
“As fotos já bem estruturadas para campanha. Tanto as fotos nas quais o Trump surge como uma vítima toda ensanguentada, [com] uma estrutura de marketing para vitimar, mas ao mesmo tempo uma estrutura de marketing pra mostrá-lo como herói, como um sobrevivente. Aquela foto dele cercado pelos agentes do FBI, com a mão pra cima, ele sendo retirado do palco, gritando USA… É tudo muito teatralizado.”
Pecequilo diz que Trump “é um homem de mídia”, e que portanto o episódio será “longamente aproveitado” por sua campanha:
“A convenção republicana começa na segunda-feira. Ele é um homem de mídia. Então, isso vai ser longamente aproveitado. A gente provavelmente teria uma convenção que seria sobre as debilidades do Biden e a indicação do vice-presidente do Trump. E agora a gente vai ter uma convenção republicana que vai ser sobre o Trump e como os inimigos da América quiseram retirá-lo.”
Cristina Pecequilo ainda falou sobre o contexto histórico dos Estados Unidos, com muitos atentados a figuras políticas importantes, e defende que, apesar de haver uma polarização atual acirrada, não se pode descolar os fatos recentes da história do país, com quatro presidentes assassinados no cargo.
“Os Estados Unidos são um país que, historicamente, se baseia em fatos violentos. A gente tem um tempo que é atual, que tem essa polarização, que a gente tem visto se acirrar nos últimos anos, mas se a gente vai ver a história americana, já foram quatro presidentes assassinados quando estavam no cargo. No século XIX, nós tivemos o Abraham Lincoln, o James Garfield, o William McKinley e, lógico, nos anos 60 o John Kennedy, que foi o último presidente que foi assassinado em exercício. E, em exercício, também nos anos 80, o Ronald Reagan sofreu um atentado, estava no cargo, estava na Casa Branca, tinha acabado de assumir, mas acabou não falecendo. E, agora, esse episódio com o Trump. Então, existe uma agenda particular no momento, mas, ao mesmo tempo, histórico de violência.”