As famílias resgatam atividades que eram sucesso nos anos 1980 e 1990 para entreter as crianças no dia a dia em casa.
Cantigas de roda, pião, pular corda, jogar bolinha de gude, pular amarelinha, brincar de passa anel…
Foi pensando em novas atividades nesta época de férias escolares que a publicitária Sofia Piergallini decidiu resgatar brincadeiras clássicas da infância com a sobrinha de 7 anos.
“Ela falou que queria me mostrar uma coisa que aprendeu com a professora. Ela estava fazendo aquela brincadeira do copo, que a criança faz uma batida ritmada que forma uma música. Eu comentei ‘acho que sua professora tem a minha idade, porque isso é da minha época’ [risos]. Descobri que, realmente, a professora dela nasceu nos anos 1990 e trouxe essa ideia de relembrar brincadeiras dos anos 2000. Agora, eu ensino para ela, e ela ensina para as amiguinhas”, explicou.
A publicitária Sofia Piergallini decidiu resgatar brincadeiras clássicas da infância com a sobrinha — Foto: Reprodução / Redes sociais
Na casa da servidora pública Renata Lucena, os quatro filhos também aprenderam atividades “das antigas”, que estimulam as funções motoras.
“Eu tento priorizar as brincadeiras clássicas com bola, futebol, queimada… Esses dias, meu filho estava brincando de pular elástico na escola e estava adorando. Ele, inclusive, me pediu para comprar um elástico. Eu prefiro que eles brinquem com brincadeiras das ‘antigas’”, contou.
O resgate de brincadeiras da infância dos pais é elogiado e, inclusive, indicado por especialistas. Para a pedagoga e pesquisadora da Universidade Federal de Lavras, Francine de Paulo Martins, esta é uma maneira de criar conexões profundas com os filhos:
“Nós temos uma categoria brincante que são as brincadeiras de roda, que terão as suas variações conforme a regionalidade, com a história e com a memória. Resgatar essas brincadeiras é também consolidar as memórias e histórias que constituem aquele grupo social que a criança pertence.”
Na hora de escolher e sugerir novas atividades, e decidir como praticá-las, a pedagoga tem uma dica valiosa: a simplicidade.
“Isso pode ser feito com brinquedos estruturados, que são esses que a gente compra prontos, ou com brinquedos não estruturados, que é o que eu sugiro e defendo cada vez mais. São objetos do cotidiano e elementos da natureza que se transformam em brinquedos para a criança, desde que você deixe à disposição para que ela possa criar.”
O período de férias, no entanto, também pode servir para que a criança aproveite o ócio. É o que defende a educadora Flávia Pellegrini:
“A gente vive uma infância ocupada, multitarefa. Temos crianças com a agenda de mini-executivos. Quando chegam as férias, elas precisam descansar. Precisam entender o que é o tédio, o ‘não fazer nada’. E o brincar imaginativo, criativo, surge nesse momento. Então, quando a criança não está fazendo nada, ela vai criar. É um ‘não fazer nada’ que, na realidade, é um brincar livre.”
As brincadeiras na infância podem ter benefícios duradouros. Um estudo da Universidade de Cambridge constatou que crianças incentivadas a brincar até os três anos de idade apresentaram menos problemas de saúde mental, como hiperatividade.