A Armênia deixará uma aliança militar liderada pela Rússia, confirmou o primeiro-ministro Nikol Pashinyan na quarta-feira (12). O político acusou membros do bloco de conspirar com o rival Azerbaijão para iniciar uma guerra contra o país.
Pashinyan acusou durante meses a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (CSTO) do Kremlin de não ter conseguido proteger a Armênia da agressão do Azerbaijão, ameaçando abandonar o bloco se Moscou não fornecesse maiores garantias.
O primeiro-ministro da Armênia tentaria aproximar dos Estados Unidos e da União Europeia com a decisão.
Desde o colapso da União Soviética, a Armênia e o Azerbaijão travaram duas guerras pela região separatista de Nagorno-Karabakh, que o Azerbaijão recuperou em setembro.
A Rússia vem se aliado tradicionalmente à Armênia, mas as suas relações pioraram nos últimos meses, à medida que os laços de Moscou com o Azerbaijão se aprofundaram.
Embora Pashinyan ainda não tenha especificado quando a Armênia deixará a aliança, o último dos soldados da paz russos que foram enviados para Karabakh completou a sua retirada na quarta-feira (12), disse o Ministério da Defesa do Azerbaijão.
O primeiro-ministro armênio disse aos parlamentares na capital Yerevan que o país “congelou” a sua participação na aliança CSTO e deixaria o bloco no momento da escolha da Armênia .
“Decidiremos quando partiremos, mas não voltaremos”, disse Pashinyan, citado pela mídia estatal Armenpress.
“Descobriu-se que os membros da aliança não estão cumprindo as suas obrigações contratuais, mas estão planejando uma guerra com o Azerbaijão contra nós.”, acrescentou.
Pashinyan não chegou a nomear os países acusados do bloco, que inclui Rússia, Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tadjiquistão.
A Organização do Tratado de Segurança Coletiva foi fundada em 1992, quando a União Soviética desmoronou.
A ruptura nas relações da Armênia com a Rússia ocorre depois de o Azerbaijão ter retomado Nagorno-Karabakh em um aguerra de um dia, em setembro.
O conflito provocando um êxodo de praticamente toda a população étnica armênia da região, apesar da presença de forças de manutenção da paz russas.
Vários armênios de Karabakh disseram à CNN na época que se sentiram “traídos” pelas forças de manutenção da paz russas que “nada fizeram” para os proteger, não lhes deixando outra escolha senão abandonar as suas casas e fugir para a Armênia propriamente dita.
Enquanto mais de 100 mil pessoas seguiam pela única estrada que saía de Karabakh, um outdoor exibindo o rosto do presidente russo, Vladimir Putin, observava-os.
Cerca de 2 mil forças de manutenção da paz russas foram enviadas para Karabakh depois de uma guerra de 44 dias em 2020, quando o Azerbaijão retomou cerca de um terço da região.
A ofensiva foi interrompida apenas por um cessar-fogo mediado por Moscou – que o Azerbaijão acabaria por violar três anos mais tarde.
Quando as garantias de segurança da Rússia se revelaram vazias e o apoio ocidental não passou de retórico, Pashinyan – temendo uma guerra total com o Azerbaijão – recusou-se a enviar apoio militar armênio para Karabakh, deixando as tropas da região em grande desvantagem numérica e com pouca escolha a não ser render-se rapidamente.
O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, descreveu a retomada de Karabakh como o “objetivo sagrado” da sua presidência.
Apesar da condenação internacional do êxodo dos armênios de Karabakh, que as autoridades em Yerevan consideraram uma limpeza étnica, havia esperança de que este fosse o preço trágico de pôr fim a um dos conflitos mais prolongados do mundo.
Mas não foi assinado um tratado de paz formal, apesar de meses de negociações.
Contudo, em abril, a Armênia concordou em devolver quatro aldeias fronteiriças ao Azerbaijão, o que ambos os países descreveram como um grande passo em direção a um acordo de paz.
Estimulado pelos progressos recentes, Pashinyan disse na quarta-feira (12) que a Armênia está “pronta para assinar um acordo de paz dentro de um mês”, descrevendo os termos do acordo como “totalmente desenvolvidos e prontos para serem finalizados”.
Mas a tentativa de normalizar os laços com o Azerbaijão alimentou o descontentamento interno, já que os manifestantes acusaram o primeiro-ministro da Armênia de fazer concessões de terras inaceitáveis ao presidente Ilham Aliyev.
O Azerbaijão também exigiu que a Armênia alterasse a sua constituição para remover uma referência à independência de Karabakh, mas Pashinyan até agora resistiu aos apelos.
Em cenas que lembram aquelas que levaram Pashinyan ao poder em 2018, protestos eclodiram em frente ao parlamento em Yerevan na quarta-feira (12). Vídeos mostraram a polícia usando granadas de efeito moral para repelir a multidão.
Mais de 100 policiais e civis ficaram feridos, informou a Armenpress.
Os protestos foram liderados pelo Arcebispo Bagrat Galstanyan, que há meses pede a renúncia de Pashinyan.
“O problema é muito simples: este homem deve partir, não há outra opção”, escreveu o Arcebispo, na quarta-feira (12), nas redes sociais.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
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