A Serra Gaúcha perdeu, pelo menos, 250 mil turistas de vinho após as enchentes no Rio Grande do Sul.
80% das vinícolas da região são diretamente dependentes do enoturismo, fortemente impactado pelas cheias em todo o estado.
As pousadas ficaram vazias e os restaurantes tiveram que fechar as portas.
O enólogo Andrei Garbo, sócio da Garbo enologia criativa, explica que os produtores tiveram perdas distintas, mas o grande impacto foi no turismo:
“Alguns vinhedos tiveram problemas como queda de barreiras, como, vamos dizer, foram parcialmente danificados, né? Mas a maior parte dos vinhedos que a gente busca a uva, eles foram preservados. Nossa região é uma região muito turística e, a exemplo de outras vinícolas, nós temos no turismo uma fonte importante de receita. E, naturalmente, toda a dificuldade causada pelas enchentes, ela reduziu bastante esse fluxo turístico, reduziu praticamente zero nesse mês, né?”
Apesar do movimento ruim, a expectativa do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do estado, o Consevitis, é de retomada gradual já em julho, mês de alta temporada.
Daniel Panizzi, vice-presidente da entidade, que também preside a União Brasileira de Vitivinicultura, acredita que não é cedo para a chegada de turistas na região:
“Nós temos muitas pessoas desabrigadas e elas dependem das pessoas que estão em condições de trabalhar para poder reerguer o estado o mais rápido possível e nós temos condições de dar um retorno saudável para essas pessoas que estão necessitando. Então nós precisamos sim desse retorno rápido. A região da Serra Uva e Vinho hoje está operando normalmente e apta a receber os turistas como estava recebendo antes dos episódios trágicos”.
Historicamente o feriado de Corpus Christi costuma ser um dos melhores para a Serra Gaúcha, mas neste ano a expectativa é bem mais tímida.
A retomada parcial dos voos em Caxias do Sul e na Base Aérea de Canoas ajuda, mas não garante uma retomada do fluxo de movimento que a região costuma ter.
O Vale dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, teve estradas completamente destruídas, mas que já estão sendo reparadas.
Produtores criaram uma força tarefa para desobstruir as vias e diminuir os danos.
Apesar dos estragos causados pelas cheias, a indústria da vinicultura não foi tão afetada.
Dados preliminares do Instituto de Vitivinicultura do estado apontam que mais de 200 produtores de uva foram impactados com as enchentes, o que representa cerca de 500 hectares em um universo de 45 mil.
A produção já havia sido colhida e agora as vinícolas precisam lidar com o estoque residual, que costumava ser vendido nas bases e na região metropolitana de Porto Alegre, ainda refém das cheias.
Entidades do setor lançaram um selo especial para destacar os produtos gaúchos pelo Brasil e no exterior, incentivando a compra.
Mesmo com o otimismo do setor vitivinicultor, um dos diretores da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, a Abrasel, disse acreditar que uma retomada deve demorar de dois a três anos.
Para Joaquim Saraiva de Almeida, é preciso se pensar em um auxílio ao setor:
“O panorama total agora é que 30% dos bares e restaurantes estão completamente fechados. Outros estão sem expectativa de faturamento. Alguns que parcialmente conseguiram abrir as suas portas também estão sem movimento. Isso aí não cobre realmente as despesas deles. Nós esperamos que os governos ajudem nessa recuperação.”
Em todo o estado, quase todos os estabelecimentos viram cair o faturamento, de acordo com pesquisa da Abrasel.
Cerca de 94% disseram estar hoje com problemas no movimento.
Mais da metade enfrenta problemas com fornecimento de água e 33% não têm energia elétrica.
O prejuízo do setor hoteleiro com as enchentes no Rio Grande do Sul pode chegar a um bilhão e setecentos milhões de reais.
A estimativa é da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no estado, que também pede um programa aos moldes do Perse voltado aos gaúchos.