Comemorando 30 anos de carreira em 2024, Alexandre Herchcovitch garantiu o status de ícone da moda tanto no cenário nacional quanto internacional. Em entrevista ao Fim de Expediente, Herchcovitch critica superficialidade no mundo fashion e aborda a venda da marca que carrega seu nome, regras no mundo da moda, e exposição Alexandre Herchcovitch: 30 anos além da moda.
Com até primeiros modelos do estilista, a exposição no Museu Judaico de São Paulo passeia pelos 30 anos de carreira de Alexandre. Ele detalha como se sentiu ao ter modelos expostos em um museu, como obras de arte:
“Então é uma exposição, no andar de exposição, que é dedicado aos convidados, os artistas que vão expor. E tem… Eu ia te falar uma coisa, mas entrou aí no intervalo. Eu estava falando que eu tive que encarar de frente chamarem-me a roupa de obra, porque eu nunca me considerei um artista”.
O estilo de Alexandre Herchcovitch se destaca pela habilidade de unir elementos clássicos e contemporâneos, resultando em criações únicas. Reconhecido por suas modelagens audaciosas, ele imprime nas peças uma autenticidade diferencial. Suas coleções tendem a desafiar as normas convencionais da moda, incorporando, assim, um toque de irreverência. O estilista também se destaca pela sua habilidade de criar peças que se comunicam com todos os públicos.
“Para mim, é tão confuso, porque eu não quero ter a pretensão de achar que eu sou um artista. Eu acho muito pretensioso. Então, por isso que eu falei que quem acha que uma pessoa é artista é o outro, não é a própria pessoa. Eu nunca fiz uma roupa pensando que é uma obra de arte. Só que eu estou me acostumando agora que a roupa está no museu e que ela é catalogada. Eu fiz doações para o museu. Então, as roupas que eu doei para o museu, elas podem eventualmente ser expostas no futuro.”
O estilista relatou ainda que mundo da moda está muito superficial. Para ele, faltam discussões mais interessantes e profundas.
“As pessoas não estão procurando ir a fundo nos assuntos e debater. Então, está muito superficial tudo, inclusive na moda. As discussões e também o que as pessoas acham que é novo na moda, de fato não é novo, e não lembra quem já fez, e é muito complicado as pessoas entenderem toda essa história e todo o processo.”
Criada em 1992, a marca que carrega o mesmo nome do estilista foi vendida em 2008 para a companhia InBrands. No entanto, após sete anos da venda, Herchcovitch voltou a ocupar o cargo de diretor criativo da marca. Ele relatou como funcionou essa movimentação.
“Na verdade, o que está acontecendo hoje é uma coisa também um pouco inédita na moda. É que eu voltei a trabalhar na marca que eu fundei, que eu vendi. Ela continua não sendo minha. Mas eu fiquei sete anos sem trabalhar nela e me aproximei novamente dos donos da marca e propus que eu voltasse a trabalhar nela. Porque é muito complicado você ter uma marca, trabalhar uma marca no mercado que o estilista é vivo, produz, mas não está trabalhando nela. Você concorria com você mesmo.”
“Alguns estilistas foram procurados para desenhar a marca Alexandre só que ninguém quis. Porque acho que ia ter um grau de comparação muito grande porque eu ainda trabalho, sou atuante e tudo mais. E agora, há dois anos, eu voltei para a marca e estou trabalhando nela.”
Alexandre também revelou que não existe regras no mundo da moda, a não ser pelas normas comerciais, no entanto, ele acredita que moda é a melhore forma de se expressar, e para isso não há regra.
“Não, não tem regra na moda. Quer dizer, tem gente que tenta colocar regra, mas essas regras são visivelmente comerciais, né? Mas não, não tem regra nenhuma. Acho que moda é uma das maneiras pelas quais a gente se expressa, né? Além da fala e de tudo. Tem a roupa, como a gente está, como está vestido, isso fala muito da gente. Então, para mim, nunca teve e nunca vai ter”.
Ouça entrevista completa:
* Estagiária sob supervisão de Laura Rocha