A defesa de Rivaldo Barbosa adiantou à CBN o conteúdo do depoimento que o ex-chefe de Polícia Civil do Rio, acusado de participar do assassinato de Marielle Franco, deve prestar à Polícia Federal. Na segunda-feira (29), os advogados pediram ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, para se manifestar no processo.
Na petição, a defesa afirma que, embora tenha havido a determinação do magistrado para que a PF ouvisse os investigados tão logo fossem realizadas as prisões, isso ainda não ocorreu. Além de Rivaldo Barbosa, os irmãos Chiquinho Brazão e Domingos Brazão também foram presos em 24 de março suspeitos de serem os mandates da morte da vereadoras.
De acordo com defesa, Rivaldo resolveu falar depois que tomou ciência do processo e da repercussão do caso já na cadeia. O ex-delegado deseja esclarecer qualquer suspeita sobre a indicação dele para o cargo ocupado em 2018 e também sobre o vazamento da investigação.
Rivaldo foi indicado para a chefia da Polícia Civil do Rio por indicação do general Richard Nunes. À época, o Rio estava sob intervenção federal, e Nunes tinha o poder de secretário de Segurança Pública do estado. Então diretor da Divisão de Homicídios, Barbosa assumiu a chefia da Polícia Civil na véspera do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, em março de 2018.
Segundo a Polícia Federal, Nunes teria sido alertado sobre as suspeitas em relação a Barbosa, mas decidiu bancar a nomeação. Ainda de acordo com o relatório da PF, “já estavam na iminência de eclodir as suspeitas” contra Barbosa, que envolviam suposto recebimento de vantagens para deixar de investigar homicídios em disputas de território para a exploração do jogo do bicho.
De acordo com o advogado Felipe Dalleprane, Rivaldo Barbosa, como chefe da Polícia Civil, não tinha gerência sobre as investigação, apenas tinha o papel de cobrar resultados do então delegado da Divisão de Homicídios, Giniton Lages, também investigado no caso Marielle.
“Ele quer esclarecer qualquer suspeita que se tem sob a indicação dele ao cargo de chefe de polícia. Porque essa nomeação, segundo o relatório da Polícia Federal, tem indícios de interferência política, né? Então, o maior interesse do Rivaldo nesse momento é esclarecer primeiramente essa questão. Como ele alcançou esse cargo de chefe de polícia e dentro da estrutura da Polícia Civil do Rio de Janeiro, qual é a responsabilidade do Rivaldo em relação à investigação do caso Marielle”.
Ainda sobre as investigações, a Polícia Federal aponta que a mulher de Rivaldo, Erika Barbosa, gerenciava empresas de fachada para lavar o dinheiro que o marido recebia de propina pelas investigações deixadas de lado. Segundo os dados, foram movimentados quase cinco milhões entre as contas envolvendo as empresas. As empresas foram abertas em 2015, mesmo ano em que Rivaldo assumiu a delegacia de homicídios.
A defesa também pediu o depoimento de Erika e chamou as acusações contra ela de narrativa.
Sobre o envolvimento com os irmãos Brazão, os advogados relatam a surpresa de Rivaldo ao saber que seu nome apareceu relacionado a Chiquinho Brazão e Domingos Brazão. A PF acusa os três de envolvimento no assassinato de Marielle. Chiquinho e Brazão seriam os mandantes por interesse em silenciar a resistência da então vereadora aos negócios de ambos em Jacarepaguá, já Rivaldo teria acobertado o plano do ataque.
O advogado de Rivaldo, Marcelo Ferreira, conta que o delegado negou qualquer relação com a família Brazão durante uma conversa na penitenciária de Brasília:
“Vou te dizer a frase que ele falou tanto para o Felipe quanto para mim na minha visita, isso ficou claro por mais de três vezes. Ele falou: ‘Marcelo, olha nos meus olhos aqui, eu não conheço essas pessoas. Eu nunca estive com essas pessoas, eu nunca fiz contato com essas pessoas. Meu celular foi cedido com senha, está lá para checar. A única vez que eu vi essas pessoas foi vindo no avião, juntos aqui para a Penitenciária Federal de Brasília.’ Então, não é desmentir, na verdade, a Polícia Federal que tem que provar. Na verdade, não existe. Está mais que claro que não existe, porque sequer foi efetuado uma diligência posterior em relação ao Rivaldo.”
Por que depoimento de Rivaldo à PF é incerto?
Apesar do movimento do ex-delegado, o depoimento dele no processo ainda é incerto. De acordo com uma informação publicada pela jornalista Malu Gaspar, do jornal O Globo, a Polícia Federal não quer ouvir Rivaldo enquanto ainda tiverem analisado todo o material apreendido na operação realizada em 24 de março.