A capital da Índia foi tomada por uma fumaça tóxica nesta terça-feira (23), depois de um incêndio em um enorme lixão. Esse é o episódio mais recente de uma série de incêndios que as autoridades têm lutado por anos para controlar.
Partes do aterro de Ghazipur, em Nova Délhi, pegaram fogo no último domingo (28), gerando emissões perigosas de calor e metano, elevando os desafios climáticos da Índia.
Nesta terça-feira (23), o incêndio no maior aterro sanitário da capital indiana provocou irritações na garganta e nos olhos dos moradores que moram na região.
As causas do fogo ainda são investigadas pelas autoridades; os incêndios em aterros são muitas vezes desencadeados por gases emitidos pela desintegração do lixo.
Todos os anos, à medida que os níveis de mercúrio sobem durante os verões escaldantes de Nova Délhi, os aterros da cidade são tomados pelas chamas, geradas pelos resíduos apodrecidos aumentando as emissões de gás metano da Índia.
O metano é o segundo gás de efeito estufa mais abundante depois do dióxido de carbono, mas é o contribuinte mais potente para a crise climática porque retém mais calor.
A Índia cria mais metano a partir de aterros sanitários do que qualquer outro país, de acordo com o GHGSat, que monitora as emissões via satélites.
A montanha de lixo em Ghazipur é apenas um dos 3 mil aterros indianos transbordando com resíduos em decomposição e emitindo gases perigosos, de acordo com um relatório de 2023 do Center for Science and Environment, uma agência de pesquisa sem fins lucrativos em Nova Délhi.
Com 65 metros, é quase tão alto quanto o histórico Taj Mahal, e uma monstruosidade que se eleva sobre as casas vizinhas, prejudicando a saúde dos moradores.
A exposição ao metano pode agravar doenças pulmonares, causar asma e aumentar o risco de acidente vascular cerebral, de acordo com a Global Clean Air Initiative, organização sem fins lucrativos.
As emissões de metano não são o único perigo decorrente dos aterros sanitários. Ao longo de décadas, toxinas se infiltraram no solo, poluindo o abastecimento de água para milhares de pessoas que vivem nas proximidades.
Em Bhalswa, um dos outros grandes aterros sanitários de Délhi, os moradores em 2022 se queixaram de cortes profundos e dolorosos na pele e problemas respiratórios.
Luta para encontrar soluções
Mais de 2.300 toneladas métricas de resíduos sólidos chegam ao lixão de Ghazipur todos os dias, de acordo com um relatório de julho de 2022 de um comitê encarregado de reduzir os incêndios.
A Corporação Municipal de Delhi usa drones a cada três meses para monitorar o tamanho da montanha de lixo e está experimentando maneiras de extrair metano dela, disse o relatório.
Mas as autoridades estão lutando para acompanhar o fluxo de lixo no local, que ultrapassou sua capacidade em 2002.
O comitê disse que a mineração biológica para extrair metano tem sido lenta e que é “altamente improvável que as autoridades locais atinjam sua meta de “achatar a montanha do lixo” este ano.
As soluções para o problema dos resíduos foram descritas em um relatório do governo indiano de 2019, que recomendou a formalização do setor de reciclagem e a instalação de mais usinas de compostagem. Mas, embora algumas melhorias tenham sido feitas no país, como a coleta de lixo porta a porta e processamento de resíduos, os aterros sanitários da Índia continuam crescendo.
Como parte de sua iniciativa “Índia Limpa”, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi disse que estão sendo feitos esforços para remover montanhas de lixo e convertê-las em zonas verdes.
Esse objetivo, se alcançado, poderia aliviar parte do sofrimento daqueles que vivem nas sombras de enormes lixões – e ajudar o mundo a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
Mas, embora a Índia queira reduzir sua produção de metano, não se juntou aos 155 países que assinaram o Compromisso Global de Metano, um pacto para reduzir coletivamente as emissões globais em pelo menos 30% em relação aos níveis de 2020 até 2030.
Os cientistas estimam que a redução poderia diminuir o aumento da temperatura global em 0,2% – e ajudar o mundo a atingir sua meta de manter o aquecimento global abaixo de 1,5 °C.
A Índia disse que não vai participar porque a maioria de suas emissões de metano vem da agricultura – cerca de 74% de animais de fazenda contra menos de 15% de aterros sanitários.
Este conteúdo foi criado originalmente em Internacional.
versão original