Basta uma olhada pelas prateleiras dos supermercados que ele está lá: o álcool líquido 70%, mas o prazo para a permanência do produto para venda está chegando ao fim. Essa é a última semana que os comércios podem vender esse produto após uma nova determinação da Anvisa, que prevê que farmácias e supermercados podem vender o álcool líquido 70% até o dia 29 de abril.
Percorrendo comércios de Belo Horizonte, nesta segunda-feira (22), a reportagem encontrou o produto em diferentes supermercados. Em alguns, a gerência informou que os estoques já estão vazios, por isso não haverá reposição.
Durante a limpeza em casa outros tipos de álcool podem ser usados — Foto: Divulgação
A diarista Catarina Monteiro trabalha em quatro casas diferentes ao longo da semana. Em todas, ela costuma utilizar o álcool para limpar vidros e espelhos. Com a proibição, a rotina e os produtos utilizados no trabalho vão mudar.
“Eu uso muito o álcool 70% e eu gosto de misturar ele com um pouquinho de detergente pra limpar espelho, limpar vidro. É a melhor coisa que tem, acho melhor do que esses produtos industrializados. Mas se proibir, não sei como que eu vou fazer porque essa superfície é tão difícil pra manter limpa”, conta.
Misturas caseiras como essas citadas pela Catarina se tornam um risco à saúde pelo cheiro e também por ser muito inflamável. É o que alerta a assessora técnica de regulação e sustentabilidade da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Lizandra Moraes.
“Se a gente for falar de vidro, nós temos os limpa vidros que estão dentro da categoria de específicos pra isso. Então, a gente tem produtos específicos pra cada uso dentro da categoria e o que é mais importante é o consumidor ver o modo de uso, a finalidade de cada produto antes de utilizar. E outra coisa muito importante é a gente evitar as misturas caseiras. Evitar pegar um pouquinho de álcool com um pouquinho de desinfetante e misturar. Não precisa disso, basta usar os produtos específicos porque as empresas fazem todos os testes, nós temos produtos pra cada finalidade”, alerta.
Utilização do álcool para acender churrasqueira está entre os principais riscos e causas de internação — Foto: Divulgação
O pedreiro Cláudio Martins diz que é um bom churrasqueiro e utiliza o álcool para a chama acender mais rápido. Ele foi pego de surpresa com a informação de proibição da venda do álcool, mas admite que corre risco com o uso.
“Eu uso pra churrasco. Geralmente eu molho todo o carvão pra adicionar o fogo porque pega mais rápido, mas é muito perigoso. Agora, com a mudança, eu vou ver o que vou fazer, mas vou mudar.
Conforme o Ministério da Saúde, são registradas cerca de 150 mil internações por ano, em decorrência de queimaduras. Segundo a Anvisa, em geral, a situação mais perigosa envolvendo queimaduras está relacionada ao uso do álcool no momento em que as pessoas acendem churrasqueiras e fogueiras.
A proibição da venda desse álcool existe há mais de 20 anos, mas foi suspensa recentemente devido à pandemia de Covid-19, para auxiliar nas ações de prevenção contra o vírus.
Outro problema que fica para o consumidor são os preços. A Associação Brasileira de Supermercados alega que a redução da oferta vai encarecer o produto, já que o álcool 70% volta a ser vendido apenas em lojas que fornecem itens hospitalares.