Um mar de camisas rosas, pretas e algumas pinceladas de branco e azul colorem o arenoso entorno do Chase Stadium, em Fort Lauderdale, na Flórida. Nas costas de crianças, adultos e idosos, o número 10 estampado e as cinco letras acima do numeral traduzem o motivo da presença: Messi.
Os arredores da casa do Inter Miami em dia de jogo se transformam em palco de peregrinação e devoção ao ídolo messiânico. Mesmo o calor forte, acima dos 30ºC, e o clima desértico não afugentam os fãs que marcam presença para ver de perto o melhor jogador do mundo.
O público é formado majoritariamente por crianças, mulheres e, principalmente, latinos. Isso fica claro no idioma escutado em cada rodinha de conversa dos torcedores, nas sinalizações do estádio e até no serviço de alto-falante. O espanhol se torna a língua oficial e, por algumas horas, aquele pedaço de terra ianque se transforma em território latino-americano. Uma conquista que pode ser colocada na conta de Lionel.
O esquenta pré-jogo
O roteiro de um torcedor – ou de um turista – no dia de jogo do Inter Miami não difere muito do que vemos no Brasil e nos nossos países vizinhos, apesar de algumas particularidades.
O principal transporte utilizado pelos torcedores do Inter Miami é o carro próprio, o que explica a região do estádio ser composta por bolsões de estacionamento. O espaço entre um carro estacionado e outro serve para que eles montem suas barracas e comecem a preparar ali o barbecue – o churrasco deles – acompanhado de latas de cerveja e conversa jogada fora enquanto esperam a hora de entrar. Paralelo a isso, crianças dividem o espaço com as churrasqueiras portáteis imaginando ser Messi por um instante num bate-bola como se fosse de rua.
Para aqueles que preferem a comodidade de entrar cedo no estádio, o Inter Miami oferece diversas opções de entretenimento para pais e filhos. Ativações para teste de habilidade com a bola de futebol, food truck com comidas variadas, distribuição de brindes, loja repleta de produtos do clube e infraestrutura amigável atraem os torcedores – ou consumidores – do Soccer.
Os preços da experiência Messi-Inter Miami não são dos mais convidativos ao bolso. Aquela máxima do viajante de que “quem converte, não se diverte” se faz valer por aqui. O ingresso mais barato para ver o argentino e seus companheiros em campo não sai por menos de US$ 100 (R$ 522). Já a entrada mais cara pode custar até US$ 999 (R$ 5.221) para aqueles que gostam de ostentar no setor VIP do estádio.
Todos estes parágrafos te deram sede de estar em Fort Lauderdale? Então se prepare porque a água custa US$ 6 (R$ 31) e a cerveja não sai por menos de US$ 16 (R$ 83). E se bater a fome, prepare-se. A pipoca é bem salgada: US$ 15 (R$ 78). E se você quiser beber um drink típico argentino, em homenagem ao Messi, é claro, vai ter que desembolsar US$ 24,50 (R$ 128) pelo Fernet y Cola.
Garganta hidratada e barriga forrada, é hora de ir para a arquibancada.
O clima na arquibancada
O Chase Stadium tem capacidade para 21.550 torcedores e costuma ficar praticamente 100% ocupado desde a chegada de Lionel Messi. A presença do campeão do mundo na equipe fez com que o número de assentos do estádio aumentasse de cerca de 18 mil para quase 22 mil devido à procura por ingressos.
Assim como costuma acontecer nos estádios sul-americanos, os setores centrais do estádio são ocupados por torcedores comuns e famílias que pagam uma boa quantia por um lugar de visão privilegiada e cadeiras confortáveis. Estes lugares são caracterizados pelos torcedores mais tranquilos e turistas, que estão ali para dizer que viram Messi e que o aplaudem a cada toque na bola ou aparição no telão.
Já as arquibancadas atrás das balizas são setores mais populares. E é num deles que fica a torcida organizada do Inter Miami, a barra La Família, formada por um combinado de grupos. Situada atrás do gol norte, que fica à esquerda dos telespectadores nas transmissões, a barra é quem dá o clima de futebol latino-americano às partidas do clube.
Faixas, bandeiras, instrumentos e músicas em espanhol são a tônica do grupo que alenta e canta durante todo o jogo, claramente inspirado pelas torcidas mais abaixo no continente. Braços e mãos lançados para frente num ritmo cadenciado, versões de canções que ouvimos na Libertadores, o bumbo marcado e os pratos estridentes fazem parecer que por um instante estamos numa noite de Copa.
Porém, o que é visto dentro de campo nos faz lembrar que estamos bem longe do futebol sul-americano e nos puxa de volta à realidade sofrida que Messi, Suárez e Busquets vivem nos gramados dos Estados Unidos.
Messi sobra na MLS
O Inter Miami, que ocupava o 2o lugar antes da partida começar, recebeu o Nashville FC, equipe que está na penúltima posição da Major League Soccer com apenas uma vitória conquistada em sete jogos. Um time sem estrelas e que, pela escalação e jogadores, mal poderia conseguir fazer dano ao time de Messi.
E não fez. Porém, contou com a sorte e se beneficiou de um gol contra do lateral Franco Negri para surpreender o time da casa logo aos dois minutos de jogo.
Susto à parte, o que se viu foi o Inter Miami orquestrado por Messi e Suárez indo para cima do rival. Não com um ímpeto fulminante. Mas com a sabedoria de quem te noção que pode resolver o jogo a qualquer momento. O resultado logo veio. Empate com um gol do argentino após jogada feita por ele mesmo. E a virada ainda no primeiro tempo com um dos integrantes da gangue de Messi, o espanhol Sergio Busquets. No segundo tempo, Messi ainda anotou mais um de pênalti para decretar o 3 a 1 e a liderança do campeonato.
Resultado e classificação deixados de lado, é gritante a deficiência técnica de rivais e até de companheiros em relação a Messi e sua trupe de amigos e craques. Do estádio, com a visão ampla, é possível perceber que Messi e Suárez passam boa parte do jogo estacionados no campo de ataque à espera do momento certo de acelerar o jogo. Algo que conseguem de maneira relativamente fácil devido à debilidade e ingenuidade dos adversários. Não se desgastam e não competem como nos tempos de Europa, porém, resolvem como sempre.
Do estádio para casa
Ao contrário de seus companheiros da equipe, Messi nunca passa pela zona mista ou dá entrevistas ao fim das partidas da MLS. Isso faz parte do show. É a lei da oferta e demanda. Quanto mais raro é ouvir e ver o ídolo, mais valioso é quando se consegue uma imagem ou declaração do argentino.
A saída do estádio de Messi para retornar para casa em Miami, que fica a cerca de 40km do estádio, é muito parecida com a chegada. Utilitários de vidros escurecidos, escolta da polícia, gritaria dos fãs e do público e lá se vai Messi sem falar com ninguém.
Em menos de uma hora após o término da partida, a região do Chase Stadium já não conta nem com Messi e nem com seus leais fãs.
Messi Superstar
O que se nota é que Messi, 36 anos, escolheu os Estados Unidos e, mais especificamente, Miami, como um projeto de vida acima do futebol nos seus últimos momentos da carreira. Vive na cidade mais latina dos EUA com as facilidades e tranquilidade que o dinheiro proporciona; fornece um estilo de vida estruturado e longe de perigos para os filhos e esposa; “brinca” de jogar futebol numa liga em que muitos jogadores ainda parecem tentar criar intimidade com o esporte.
Recebe tudo isso em troca de entregar aos americanos o entretenimento – e retorno financeiro – que tanto gostam. Escolheu um país especializado em transformar ídolos de qualquer ramo em lendas e ícones do entretenimento. Vive-se a “Messiexperiência”.
Messi Superstar está em cartaz nos Estados Unidos e disponível para quem tiver dinheiro suficiente para pagar.
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