Um levantamento do Instituto Fogo Cruzado e do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), mostra que áreas dominadas por grupos criminosos mais que dobraram no estado do Rio em 16 anos. No caso das milícias, a atuação triplicou nesse período, principalmente na Zona Oeste da capital e na Baixada Fluminense.
Segundo a pesquisa, em 2023, todos os grupos criminosos pesquisados reduziram a atuação no estado, com exceção do Comando Vermelho, que expandiu 8,4%. Os traficantes retomaram, por exemplo, o domínio de áreas que tinham sido tomadas por milicianos.
A diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto, destaca que pelo menos uma em cada cinco pessoas que vivem na Região Metropolitana mora em áreas com tiroteios constantes.
“Há operações policiais que fecham o trânsito e terminam em vítimas de balas perdidas. Apesar de tudo isso, nos últimos 16 anos, o domínio territorial dos grupos armados mais do que dobrou. Pelo menos uma em cada cinco moradores do Grande Rio vivem sob o medo de se ver preso no fogo cruzado entre grupos criminosos ou entre eles e as polícias”, detalha.
O sociólogo Daniel Hirata, do Grupo de Estudos de Novos Ilegalismos da UFF, ressalta que as disputas pelo comando dos grupos armados – sejam de traficantes ou milicianos – intensificam os confrontos, o que reflete diretamente no funcionamento de serviços essenciais, como escolas e unidades de saúde. Ele pondera que as forças de segurança precisam projetar todos os cenários possíveis para tentar frear o avanço de criminosos.
“As forças policiais têm que fazer projeções, trabalhar com cenários para a prisão de chefes de grupos armados. Se não, isso intensifica os conflitos – entre milícias diferentes, entre milícias e grupos do tráfico de drogas… Quem sofre muito com isso são os moradores dessas áreas, que já são controladas, e, então, passam a ter um convívio cotidiano com tiroteios entre esses grupos e forças policiais”, afirma.
E o que responde a Polícia do Rio?
O coronel Robson Rodrigues, ex-chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio, pondera que falta integração entre as esferas estadual, municipal e federal para debater e aplicar políticas de segurança.
“O crime só é tão organizado em virtude da desorganização do Estado como um todo; falta integração. Abdica-se de certas áreas, setores como serviços, e se deixa um ‘flanco’ muito oportuno para que criminosos avancem”, disse.
Procurada, a Polícia Militar informou que o órgão responsável por emitir os relatórios oficiais e compilar os indicadores criminais é o Instituto de Segurança Pública (ISP).