Quem você pensa quando se fala em crochê, costura, ponto cruz ou tricô? Se você lembrou da sua avó, da sua mãe ou de alguma tia ou até vizinha é até legítimo. Por muito tempo, essas habilidades manuais foram associadas às senhoras ou idosos, mas agora essa tendência mudou: são os jovens quem têm dominado as agulhas, linhas e máquinas de costura. Com os movimentos ágeis dos dedos e das mãos, a geração Z tem feito peças exclusivas e originais e está criando os próprios croppeds, saias, vestidos, casacos e acessórios. A onda é embalada pelo “Do It Yourself” (DIY) – ou “faça você mesmo”, na tradução em português.
O movimento se popularizou ao ponto de ganhar as redes sociais com tutoriais e vídeos feitos, até mesmo, por crianças e adolescentes com passo a passo da chamada “arte de crochetar”. Muitos deles começam pelo “primeiro passo”: fazem um chaveiro ou um aplique mais simples em uma peça de roupa que está parada no armário. Com o avanço da habilidade, surgem peças autênticas e irreverentes.
Advogada Clarissa Foliatti, de 25 anos, pratica crochê desde os sete anos
O crochê tem sido ensinado em salas de aula em disciplinas como Artes. Clarissa Foliatti começou a fazer crochê aos 7 anos, depois de começar a aprender com a mãe. Aos 25 anos, a advogada cria os próprios vestidos, casacos, saias e croppeds como hobby.
Crochê da advogada Clarissa Foliatti, de 25 anos, enquanto assiste High School Musical — Foto: Clarissa Foliatti/Arquivo pessoal
“O crochê tem essa vantagem de você desmanchar e criar uma outra coisa completamente diferente, como retalhos de fios que muita gente faz aquelas calças, blusas, todas coloridas, que são retalhos de fios. Então, é uma prova que você consegue aproveitar tudo do crochê. No fim de semana, é meu momento de parar, colocar uma série de fundo e fazer meu crochezinho. Eu levo isso como uma terapia”, diz.
Crochê da advogada Clarissa Foliatti, de 25 anos — Foto: Clarissa Foliatti/Arquivo pessoal
Clarissa ensinou ainda o crochê à amiga e advogada Nathália Leal, de 25 anos. No carnaval, as duas saíram com o mesmo modelo de vestido feito por elas. Nathália compartilha qual é o tipo de programa que embala as duas amigas:
“A gente acaba trabalhando no celular, no computador, se divertindo nas redes. Por isso, eu queria algo que escapasse disso e é uma prática que está crescendo muito no meio dos jovens. E não sou só eu. Tem a minha amiga que a gente se sente até quase na terceira idade, porque marcamos para tomar um café, conversar e fazer crochê juntas.”
Clarissa Foliatti ensinou ainda o crochê à amiga e advogada Nathália Leal — Foto: Arquivo pessoal
Moradora de Sorocaba, em São Paulo, Geovana Santos, de 19 anos, começou a fazer crochê na pandemia, com 15. Ela se entusiasmou depois de ver os chamados amigurumis, que são bonecos feitos de crochê. A habilidade cresceu a ponto de ela fazer bolsa, biquíni, saída de praia e saias para si mesma. Hoje, Geovana dá cursos e palestras e ensina a própria mãe a fazer crochê.
Advogada Clarissa Foliatti, de 25 anos, pratica crochê desde os sete anos — Foto: Clarissa Foliatti/Arquivo pessoal
“Depois de dois anos, eu quem ensinei a minha mãe, porque ela teve vontade de aprender. Hoje eu acho que ela está fazendo (crochê) mais do que eu, porque ela não para um minuto”, brinca.
Além do movimento do “faça você mesmo”, uma outra técnica que influencia a prática do crochê é a onda do upcycling, ou seja, transformar por completo uma peça parada no armário e dar um novo sentido a ela. Com isso, duas calças jeans velhas juntas podem, por exemplo, virar uma jaqueta. A empresária do ramo da moda Gizele Barroso conta que o movimento faz parte de reconfigurar o armário em um processo criativo, embalado pela moda mais ecológica e sustentável.
Crochê feito pela advogada Nathália Leal — Foto: Nathália Leal/Arquivo pessoal
“A moda mais sustentável que existe é aquela que já está circulando. Com isso, você pegando as peças já existentes, que ficariam paradas em estoques ou que ficariam paradas no seu closets, e dando um aspecto novo para ela, por meio do upcycling, e que entra também o Do It Yourself, que é, de certa, forma a customização, você dá uma nova cara e uma sobrevida maior para essa peça que, muitas vezes, acaba parando nos grandes lixões mundiais que a gente conhece”, explica.
A onda dos crocheteiros atrai não só as meninas ou as jovens: homens também têm mostrado as habilidades na internet, com vídeos, e criação de peças como colchas, tapetes, redes e até toalhas. Quem pratica a crochetagem diz que é uma terapia como fuga da internet e das telas.