O presidente francês Emmanuel Macron discursou, na noite desta quarta-feira (27), no encerramento do “Fórum Econômico Brasil-França – A Transição para a Economia Verde”, na sede da Fiesp, em São Paulo. Ele abordou a negociação entre União Europeia e Mercosul e definiu como um “péssimo acordo”, o qual ele nega defender.
“Vamos acabar com o Mercosul de 20 anos atrás. Vamos construir um novo acordo que seja à luz de nossos objetivos e de nossa realidade, ou seja, um acordo comercial que seja responsável de um ponto de vista de desenvolvimento, de clima e de biodiversidade. Um acordo de nova geração, com objetivos claros, que facilitará o acesso ao mercado europeu de suas empresas, que são marcas, e que tem um modelo de mix energético que é bem melhor que muitos outros países europeus e que será mais exigente de parte e de outra, com nossos agricultores, com nossos industriais, mas que nos permitirá fazer esse caminho”, afirmou.
Interlocutores do governo francês, ouvidos pela reportagem da CBN, tinham afirmado que Mercosul não é um assunto do presidente francês no Brasil por se tratar de um acordo que envolve toda a União Europeia. A expectativa, porém, é de que Macron esteja aberto para avançar nas discussões que estão emperradas.
No fim do discurso de abertura do Fórum na Fiesp, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, citou o Mercosul como instrumento que pode fortalecer as relações com a França. Ele disse que reconhece existir alguns desafios que tanto o Brasil quanto a França enfrentam em relação ao tratado. Entretanto, afirmou estar confiante de que, a longo prazo, os benefícios da integração das duas regiões vão superar as adversidades iniciais, proporcionando expressivos ganhos para Brasil e França e para os demais signatários do acordo. Ele ainda citou que o tratado ajudará a dar respostas adequadas à descarbonização da economia, à transformação e à regulação digital e a outros desafios contemporâneos.
O que mais disse Macron em SP
Ao começar discurso, Macron pediu desculpa pelo atraso porque passou mais tempo com o presidente Lula tratando de questões relacionadas a segurança. Durante o evento, o presidente francês disse que queria deixar três mensagens.
A primeira é que as empresas francesas acreditam no Brasil. A segunda mensagem é que as empresas brasileiras deveriam acreditar mais na França. A terceira mensagem é de que é possível superar os grandes problemas das mudanças climáticas e fazer uma transição energética.
Macron enfatizou o crescimento das relações bilaterais entre a França e o Brasil, com mais de 8,4 bilhões de euros no comércio. Segundo o presidente francês, o estoque de investimento direto da França no Brasil aumentou 26%, ultrapassando 40 bilhões de euros, além de 1,1 mil filiais francesas em solo brasileiro.
O vice-presidente Geraldo Alckmin disse que a visita de Macron tem grande significado, principalmente por ter passado pela Amazônia brasileira, e que a vinda do francês vai fortalecer os laços entre os dois países. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também discursou nesta quarta. Os dois participaram de reuniões privadas com Macron.
O presidente chegou a Fiesp por volta das 16h20 e participou de encontros privados. O presidente francês ainda tinha marcadas conversas com representantes do BTG Pactual, da Votorantim e da BWSA. O objetivo era defender que as empresas brasileiras confiem mais na França, o que ele inclusive está fazendo no discurso de encerramento do fórum. Setores importantes da indústria brasileira aproveitaram a visita para tentar destravar as discussões sobre o Mercosul.
Durante evento, um jornalista agradeceu, em francês, a Macron pela visita, e o presidente francês acenou e mandou beijo: “Até a próxima”. Veja vídeo abaixo:
Macron acena e manda beijo para jornalistas em São Paulo: ‘Até a próxima’
A capital paulista é o único local onde o presidente Lula não está com o chefe do executivo francês durante esses quatro dias de visita.
Próximos compromisso de Macron no Brasil
Encontro de Lula e Macron em 2023. — Foto: Ricardo Stuckert / PR
Da Avenida Paulista, o presidente francês vai para a Zona Oeste, na região do Butantã, participar da inauguração do Instituto Pasteur, na Universidade de São Paulo. À noite, tem um jantar marcado com artistas e agentes culturais no Liceu Pasteur. Estarão presentes neste jantar os jovens da Fundação Gol de Letra, com o fundador, o ex-jogador Raí, ídolo do Paris Saint Germain.
Sobre a possibilidade de um passeio pela Avenida Paulista, pessoas próximas ao governo francês negaram essa informação novamente. Isso foi uma sugestão, inclusive, de autoridades brasileiras.
Na quinta-feira (28), último dia da agenda oficial no país, Macron vai à Brasília. Lula volta a receber o presidente francês para uma visita de Estado. O que se espera é a assinatura de acordos bilaterais e ainda discussões sobre problemas geopolíticos no mundo.
Viagem de Macron a Belém e investimento na Amazônia
O presidente francês chegou na terça-feira ao Brasil e desembarcou em Belém, cidade sede da COP 30. Durante a visita, os presidentes da França e do Brasil anunciaram um programa que pretende investir 1 bilhão de euros na bioeconomia da Amazônia brasileira e da Guiana, território ultramarino da França na América do Sul.
Lula e Macron em Belém, no Pará
10 fotos
As imagens viraram “meme” na internet. Internautas dizem que as fotos lembram um ensaio de “pré-casamento”.
No RJ, Macron defende maior parceria militar
Lula e Emmanuel Macron participam do lançamento do submarino Tonelero — Foto: Ricardo Stuckert / PR
Em Itaguaí, no Rio, nesta quarta-feira, o presidente Lula e o presidente da França, Emmanuel Macron, pregaram a “paz mundial” e defenderam a ampliação de parcerias militares entre os dois países. Os dois presidentes participaram da cerimônia de batismo do submarino Tonelero, no Complexo Naval de Itaguaí, na Costa Verde fluminense. A embarcação faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, o Prosub, parceria entre o Brasil e França, firmada em 2008, com orçamento de cerca de R$ 40 bilhões.
Lula disse que o Brasil está ao lado dos países que “querem a paz” e que os investimentos em tecnologias militares internacionais não são para “fazer guerra”, mas para trabalhar pela paz.
“Nós temos que nos preocupar com a nossa defesa. Não porque nós queremos guerra, é defesa para quem quer paz. A defesa para quem mora num continente que já definiu que nós vamos continuar, na América Latina e América do Sul sendo uma zona de paz. Porque hoje nós sabemos que existe um problema muito sério de animosidade contra o processo democrático desse país, contra o processo democrático do planeta Terra. Porque nós somos defensores da paz em todo e em qualquer momento da nossa história.”
Sem fazer referência específica, Lula também defendeu a valorização das estratégias de defesa em face do que chamou de “animosidade contra o processo democrático”.
O presidente francês fez um discurso crítico a conflitos recentes, mas também não especificou algum. Macron disse que Brasil e França devem se fortalecer militarmente para não serem “lacaios de outros” países.
“As grande potencias pacíficas, como a França e o Brasil, devem reconhecer que, neste mundo cada vez mais desorganizado, temos que ser capazes de fazer uso de falar da firmeza e da força. Somos as potências que não querem ser os lacaios de outros. Temos que saber defender com credibilidade a ordem internacional”, defendeu Macron.
Essa foi a segunda agenda do presidente francês do Brasil, em uma passagem de três dias.
Aceno aos militares
O presidente Lula aproveitou para fazer um aceno aos militares – às vésperas do aniversário de 60 anos do golpe militar de 1964. O presidente afirmou que tem “carinho” pelas Forças Armadas e defendeu que elas sejam “altamente qualificadas” como forma de “garantir a paz”.
“Esse carinho que temos com a Marinha, que nós temos com a Força Aérea Brasileira, com a Aeronáutica e com o Exército brasileiro, porque um país do tamanho do Brasil precisa ter Forças Armadas altamente qualificadas, altamente preparadas ao ponto de dar respostas e garantir a paz quando nosso país precisar”, declarou Lula.