O governo da Venezuela afirmou que o Brasil foi “intervencionista” ao manifestar preocupação com o processo eleitoral no país vizinho. O comunicado do Itamaraty foi emitido após a principal candidata de oposição ter a candidatura rejeitada. Corina Yoris acusa o governo de escolher quem serão os adversários de Nicolás Maduro na eleição marcada para julho.
Depois da principal candidata da oposição na Venezuela não conseguir registrar a candidatura para a eleição presidencial marcada para 28 de julho, o governo brasileiro afirmou que via o processo eleitoral no país com “expectativa e preocupação”.
O Itamaraty também destacou que o Brasil está pronto para, em conjunto com outros membros da comunidade internacional, cooperar para que as eleições constituam um passo firme para que a vida política se normalize e a democracia se fortaleça na Venezuela. No fim do documento, o ministério das Relações Exteriores ainda afirma que a Venezuela é um país amigo do Brasil.
O comunicado desagradou o governo de Nicolás Maduro. O Ministério das Relações Exteriores venezuelana chamou a nota de “intervencionista” e com comentários “carregados de profundo desconhecimento e ignorância”
O comunicado brasileiro foi publicado depois que a principal frente de oposição venezuelana não conseguiu inscrever a candidatura de Corina Yoris. O prazo para o cadastro das candidaturas foi encerrado nesta segunda-feira.
As eleições presidenciais estão marcadas para 28 de julho. O presidente Nicolás Maduro não teve os mesmos problemas e formalizou a candidatura à reeleição.
Na resposta à manifestação brasileira, a diplomacia venezuelana afirma que o comunicado emitido pelo Itamaraty parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos”.
Ao mesmo que tempo que manifesta preocupação, a nota do Itamaraty também reforça a posição brasileira de considerar ilegais as sanções econômicas aplicadas pelos Estados Unidos à Venezuela.
O professor e coordenador do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima, João Carlos Jaronchinski, analisa que o Brasil se posicionou de forma constrangida ao criticar a Venezuela, e que a condição do Brasil como mediador da crise tem diminuído.
Filósofa e professora universitária, Corina Yoris, de 80 anos, nunca trabalhou na administração pública, e tem ficha limpa na base de dados do Conselho Nacional Eleitoral.
Em entrevista coletiva, a agora ex-candidata afirmou que o partido fez todas as tentativas de inscrição, mas que o sistema de registro eleitoral estava totalmente fechado.
Não vou cair em provocações. Estamos defendendo o direito de todo um país escolher. Eu não sou a candidata de um só partido político, eu me sinto representando essa candidatura que é o desejo de todos os venezuelanos
A vecedora das prévias da oposição, Maria Corina Machado, não conseguiu concorrer por ter sido impedida de ocupar cargos públicos na Venezuela por 15 anos.
Maria Corina acusa o governo de Nicolás Maduro de escolher os candidatos que poderão participar do pleito. O posicionamento, além de cítico ao governo, também a distancia do candidato de oposição Manuel Rosales.
Com perfil pragmático e negociador, Rosales concorrerá pelo Um Novo Tempo. Apesar de opositor, Rosales é governador do estado de Zúlia, e não é visto como um opositor totalmente independente como Corina Yoris.
Além de Nicolás Maduro, nove candidatos tiveram a candidatura registrada, mas alguns deles são acusados de colaborar com o governo chavista.