Após o Brasil questionar o impedimento da inscrição de uma candidata da oposição no processo eleitoral da Venezuela, as âncoras Vera Magalhães e Carolina Morand recebem, no Ponto Final CBN, o cientista político Guilherme Casarões, que também é professor de relações internacionais da FGV-SP e da Universidade Brown, nos EUA. O especialista comenta que a proibição de candidaturas da oposição é comum em governos autoritários, além da situação delicada na qual está inserida o Brasil. Ouça a entrevista completa:
Entenda
O governo da Venezuela afirmou que o Brasil foi “intervencionista” ao manifestar preocupação com o processo eleitoral no país vizinho. O comunicado do Itamaraty foi emitido após a principal candidata de oposição ter a candidatura rejeitada. Corina Yoris acusa o governo de escolher quem serão os adversários de Nicolás Maduro na eleição marcada para julho.
Depois da principal candidata da oposição na Venezuela não conseguir registrar a candidatura para a eleição presidencial marcada para 28 de julho, o governo brasileiro afirmou que via o processo eleitoral no país com “expectativa e preocupação”.
O Itamaraty também destacou que o Brasil está pronto para, em conjunto com outros membros da comunidade internacional, cooperar para que as eleições constituam um passo firme para que a vida política se normalize e a democracia se fortaleça na Venezuela. No fim do documento, o ministério das Relações Exteriores ainda afirma que a Venezuela é um país amigo do Brasil.
O especialista explica que a atitude da Venezuela em proibir candidaturas da oposição é comum em regimes autoritários.
“O governo venezuelano tem feito um esforço de desqualificar legalmente a possibilidade de candidaturas de oposição que pudessem representar qualquer tipo de ameaça mais concreta ao candidato e presidente Nicolás Maduro. Esse é um expediente, aliás, muito comum em regimes autoritários, ou regimes ilíticos, e certamente o caso da Venezuela é um caso desse, em que há um simulacro de democracia, um processo eleitoral altamente controlado pelo governo incumbente, que permite que candidaturas se registrem com muito poucas chances de disputar qualquer tipo de eleitorado relevante”, explica.
Guilherme Casarões segue o raciocínio e destaca que são poucas as chances de o candidato do partido de oposição, Manuel Rosales, sair vitorioso da disputa eleitoral, enquanto Nicolás Maduro amplia domínio e protagonismo no pleito.
“Esse candidato do partido de oposição, que é o Manuel Rosales, vai ter uma chance muito pequena de enfrentar Nicolás Maduro nas urnas, de modo que vai ser mais uma eleição praticamente de candidato único, em que o Maduro domina completamente o processo eleitoral. Isso é muito problemático, e está acontecendo de maneira recorrente na Venezuela, despertando todo tipo de condenações políticas internacionais com relação ao estado da democracia no país”, alerta.
Lula sobe o tom sobre processo eleitoral na Venezuela
Durante a entrevista, o professor analisa que Lula se colocou numa situação delicada no que se refere à relação com a Venezuela.
“O governo Lula precisou adaptar a sua postura com relação à Venezuela depois de ver frustrada a tentativa brasileira de assegurar, pelo menos, que as eleições no país vizinho fossem transparentes. Essa é a aposta do governo Lula desde o começo do seu terceiro mandato, fazer afagos em Nicolás Maduro como forma de construir uma relação de confiança com o país. E, sobretudo, depois da ameaça de guerra com a Guiana, essa necessidade de se aproximar da Venezuela ficou ainda mais clara da parte brasileira. Ficou muito claro que o governo brasileiro está num beco sem saída, de alguma forma, precisando dar um recado claro ao governo vizinho de que o Brasil não vai tolerar nenhum tipo de violação sistemática democracia. O Brasil precisou se posicionar”, avalia.
Para o professor de relações internacionais da FGV-SP e da Universidade Brown, nos EUA, “a política externa foi um fardo para o governo Lula ao longo de 2023”. Assim, foi necessário reposicionar o Brasil depois de quatro anos de guerra do governo Bolsonaro.
“A política externa, há muito tempo, vem buscando atender a demandas internas e externas de presidentes ou de governos brasileiros. De alguma maneira, mesmo os apoiadores do Lula avaliavam, já no fim do ano passado, que o presidente tinha se dedicado excessivamente a temas internacionais e se dedicava um pouco aos temas da política interna mais sensíveis ao eleitorado em geral”, ressalta.