A Polícia Federal aponta nas investigações que a morte da vereadora Marielle Franco foi um crime idealizado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e meticulosamente planejado pelo delegado Rivaldo Barbosa, que assumiu o comando da Polícia Civil do Rio de Janeiro um dia antes do crime, em março de 2018. Segundo a polícia, o delegado deu uma garantia prévia de impunidade aos mandantes do crime. Os presos negam as acusações. É o que mostra o relatório divulgado pela Polícia Federal neste domingo (24).
14 de março de 2018
O relatório da Polícia Federal sobre o caso Marielle descreve como foi o dia 14 de março de 2018, o dia dos assassinatos. Esse documento diz que depois de receber a informação sobre a presença de Marielle em um evento na Casa das Pretas, que fica na Lapa, na região central, Ronnie Lessa contatou Élcio de Queiroz por meio de um aplicativo de mensagens e o convocou, segundo o relatório, para a execução. Então, enviou uma foto de Marielle com outras mulheres nesse evento.
Diante disso, o Élcio foi até a casa do Ronnie, no condomínio Vivendas da Barra. Eles entraram no carro que foi usado no crime, estava estacionado ali perto, e foram ali para a Casa das Pretas, na Lapa. No local, eles ficaram ali até o fim do evento.
Imagens de câmeras de segurança registraram a cena. A partir do momento em que Marielle embarca no carro em que Anderson Gomes dirigia, eles começaram a ser seguidos por Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz. E foi na esquina das ruas Joaquim Palhares e João Paulo que Ronnie efetuou os disparos que atingiram Marielle e Anderson.
Na fuga, segundo o relatório da PF, a dupla se dirigiu até a casa da mãe de Ronnie Lessa, onde eles abandonaram esse carro prata e pediram, por meio de um irmão do Ronnie Lessa, Denis Lessa, um táxi que os levou até o Vivendas da Barra de volta, local onde eles embarcaram no veículo próprio de Ronnie Lessa e seguiram para um bar na região para acompanhar o restante do jogo entre Flamengo e Emelec pela Copa Libertadores. Então essa é uma breve descrição de como foi o dia 14 de março de 2018.
Infiltrado pode ter ‘superdimensionado’ ações de Marielle
Ronnie Lessa, no acordo de colaboração premiada, narrou que Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, a partir de dado momento, passou a ser mais específico sobre os obstáculos que a vereadora Marielle Franco, na época, poderia representar à milícia.
Ele se refere a algumas reuniões que ela teria tido com lideranças comunitárias na zona oeste do Rio, para tratar de questões relativas a loteamentos de milícia. Esse seria apenas um exemplo, dado ali por Brazão, tendo em vista os riscos da atuação de Marielle.
Ronnie Lessa também mencionou que, por conta de alguma animosidade, haveria um interesse especial da vereadora em efetuar esse combate nas áreas de influência dos Brazão. E esse dado chegou a Domingos Brazão, justamente pelo infiltrado Laerte Silva de Lima. Nesse momento, de acordo com o relatório, ponderou-se a possibilidade de que Laerte poderia ter superdimensionado, sobrevalorizado, ou até mesmo inventado informações para prestar contas dessa atuação dele como infiltrado.
Então, levado informações não necessariamente verdadeiras aos irmãos Brazão, nas palavras de Ronnie Lessa, ele poderia ter enfeitado o pavão, levando, então, os irmãos Brazão a um superdimensionamento das ações de Marielle, e isso ter colaborado para essa motivação do assassinato da vereadora.
Irmãos Brazão ofereceram lotes de empreendimento como recompensa
O relatório da PF mostra que o policial reformado Ronnie Lessa contou à PF que os irmãos Chiquinho Brazão e Domingos Brazão ofereceram lotes em um empreendimento na zona oeste do Rio, como recompensa a morte da vereadora Marielle Franco.
Segundo o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a disputa na votação de um projeto Câmara Municipal, que trata da regularização de um condomínio na zona oeste do Rio, foi um dos principais motivadores para a morte da vereadora. Marielle queria a regularização das terras para fins sociais, mas os irmãos Brazão, não queriam.