O primeiro transplante de rim de porco geneticamente modificado para um humano vivo, realizado no sábado (16), é um “marco histórico” para a Medicina, afirmou o doutor brasileiro Leonardo Riella, quem comandou a operação.
O transplante foi feito em um paciente de 62 anos, que tinha diagnóstico de doença renal grave. Riella destaca que essa cirurgia “não aconteceu do dia para a noite”, mas é resultado de décadas de pesquisa para tornar o órgão do animal compatível aos humanos.
“Em 1960, houve a tentativa de fazer esse transplante [de rim de porco para um humano], mas houve rejeição aguda e imediata. Foi através da biologia e da ciência que começamos a compreender quais eram essas incompatibilidades”, destacou.
Segundo disse o doutor durante a entrevista à CNN, os genes do porco foram editados mais de 69 vezes para maior compatibilidade e diminuir o risco de infecções.
Assim, ressaltou que o potencial do xenotransplante — o de um órgão de um animal para um humano” — é “incrível”.
Procedimento parecido ao transplante em humanos
Riella explicou ainda sobre a preparação e pesquisa para o transplante, assim como a cirurgia.
“O procedimento em si é muito parecido ao em humanos, a diferença é o doador, um porco geneticamente modificado para aumentar a compatibilidade do órgão e dos seres humanos”, comentou.
O doutor destacou que a pesquisa pré-clínica em primatas foi feita no Massachusetts General Hospital, instituição em que ele é diretor de transplante renal, por grupos que são líderes do xenotransplante no mundo.
Em seguida, o grupo que ele coordena desenvolveu um protocolo e identificou qual seria a via principal para conseguir fazer essa transição do laboratório para a clínica.
Riella afirmou ainda que rim foi o órgão que mostrou os resultados mais promissores nos modelos de animais, mas que especialistas estudam a utilização de coração, fígado, pulmão de porco e até ilhotas para o tratamento de diabetes.
Paciente teve coragem de aceitar procedimento
Outro ponto destacado durante a entrevista à CNN foi o processo para que o paciente fosse comunicado e aceitasse ser submetido à operação. Foi o doutor Riella quem contou sobre o transplante com um rim de porco.
“Ele [paciente] leva toda a credibilidade por ter a coragem de aceitar um procedimento em que existiam muitas incertezas. Apesar de estarmos muito confiantes de que poderíamos fazer isso de uma forma segura, não poderíamos garantir o sucesso disso”, explicou.
Assim, houve várias discussões até que o homem de 62 anos aceitasse a operação, tendo discutido com médicos que cuidaram dele anteriormente e familiares, por exemplo.
Quem é o doutor Leonardo Riella
Leonardo V. Riella é um médico brasileiro, formado pela Universidade Federal do Paraná. Realizou residência em Medicina Interna na Brigham and Women’s Hospital (BWH), um hospital da Harvard Medical School. T
ambém realizou Fellowship (programa de especialização) em Nefrologia e Transplante na BWH e no Massachusetts General Hospital Program, também na Harvard Medical School.
Atualmente, Riella é presidente do Harold and Ellen Danser e professor associado de Medicina e Cirurgia na Harvard Medical School. Além disso, é diretor de transplante renal do Massachusetts General Hospital e pesquisador sênior do Center for Transplantation Science.
Saiba mais sobre o Leonardo Riella nesta matéria.