Em meio a crises no Ministério da Saúde, a ministra Nísia Trindade afirmou que sabe lidar com pressões após ter sido presidente da Fiocruz durante a pandemia no governo Bolsonaro, mas definiu que isso atrapalha o seu trabalho. Em entrevista a Vera Magalhães e Carolina Morand no Viva Voz, ela lamentou o machismo sofrido à frente do Ministério da Saúde, em que “todo dia é exposta na imprensa”, mas não pela função que exerce. Ouça a entrevista completa abaixo:
“Já passei por muita pressão política até porque fui presidente da principal instituição de saúde em um governo negacionista, lutei e consegui contribuir para que a população tivesse vacinas. Então, não me considero nem um pouco uma pessoa que não possa receber pressões. Só que essa pressão está dificultando o meu trabalho”, afirmou.
Segundo apurou Vera Magalhães com parlamentares, há ameaças de convocação da ministra no plenário da Câmara. Ao ser questionada sobre isso, Nísia afirmou que foi orientada por Lula a ligar para o presidente da Câmara, Arthur Lira, para quem irá enviar um relatório e com quem conversou nesta quarta:
“O presidente não precisaria fazer o reforço dele [para ligar para Lira], pela boa relação que o presidente tem com o presidente da Casa, da Câmara, deputado Lira, em relação essa que sempre foi de cordialidade entre nós, também devo dizer, como tem que ser. Nós somos todos gestores públicos de alto nível e essa é a responsabilidade que o povo espera da gente, e não ficar com ataques. Acho que isso não está dentro do republicanismo para mim.”
A ministra afirmou ainda que o pedido de Lira pelo relatório teria sido numa ligação anterior, justamente como “uma gentileza em vez de um requerimento formal, mas disse: ‘Ele não queria que isso parecesse como uma pressão contra mim. Agora, você fala, inclusive, de uma convocação.”
O Ministério da Saúde enfrenta três crises atualmente: a emergência sanitária da população Yanomami, a epidemia de dengue no Brasil e os problemas nos hospitais do Rio de Janeiro.
O que foi dito na reunião entre Lula e Nísia?
Na segunda-feira (18), Nísia chorou durante a reunião ministerial e se encontrou com Lula e o alto escalão do Ministério da Saúde na terça-feira (19), aumentando a especulação de que ela poderia ser demitida do cargo. Porém, esta última reunião, segundo a ministra, foi uma sugestão do presidente na semana passada para ter um “contato direto” com desafios da pasta:
“Foi bem essa tônica da reunião, sempre querendo reforçar a Saúde, entendendo que a pasta é muito difícil. Ele [Lula] começou a conversa dizendo: ‘Eu sei que a Saúde é uma área muito difícil, enfrenta muitos problemas. Então, queria ver esses pontos que são mais críticos, da questão do enfrentamento à dengue. Como é que está esse cenário? Como é que vamos fazer com a questão Yanomami?’. A reunião se desenrolou em torno do nosso trabalho e como ele pode ser mais fortalecido interna e externamente naturalmente.”
Já sobre a demissão de funcionários do Ministério da Saúde, Nísia explica que foi uma “questão de eficiência de gestão”