Diante de um cenário de crescente xenofobia e alto custo de vida, brasileiros que moram em Portugal estão atentos ao resultado das eleições deste domingo. Depois de ser governado durante anos por uma coalizão de centro-esquerda, o país europeu poderá dar uma guinada mais à direita após as eleições parlamentares deste domingo. Com a política migratória mais aberta da Europa, a população de 10 milhões de habitantes já é composta por 10% de migrantes, o que vem fomentando o discurso anti-imigração na sociedade portuguesa.
As pesquisas de intenção de votos mostram a liderança da coligação de centro-direita na corrida eleitoral. As sondagens também apontam que o partido da direita radical Chega, personificado na figura do candidato André Ventura – apoiado pelos ex-presidentes Donald Trump e Jair Bolsonaro -, está perto de consolidar sua força política no Parlamento português. As eleições legislativas foram antecipadas após a renúncia do primeiro-ministro socialista António Costa, envolvido em um escândalo de corrupção.
Embora permaneça em terceiro lugar, pesquisas mostram que o apoio à mensagem do partido Chega, com discurso anti-corrupção e a hostilidade à imigração, praticamente dobrou desde a última eleição em 2022.
Conforme o cientista político e professor de Relações Internacionais Maurício Santoro, ainda é cedo para falar em fechamento das portas para a imigração em Portugal. Entretanto, ele vê a ascensão da extrema-direita como uma reação ao crescimento do número de imigrantes desde o processo de redemocratização do país.
“Hoje é um país muito mais cosmopolita, muito diversificado do ponto de vista étnico e cultural do há 50 anos e tem gente que se sente ameaçada em seu estilo de vida e identidade. O que acontece em Portugal não é muito diferente do que acontece na França, Inglaterra ou Estados Unidos. E com um desafio extra porque embora Portugal tenha crescido, não é um país rico como esses outros países, e é mais difícil receber todos esses imigrantes e ter uma proteção social adequada”.
Há cinco anos em Portugal, o jornalista Carlos Machado e a esposa foram viver na Europa para fazer mestrado. Ele observa que o país abriu as portas para a migração, mas não se preparou para isso. E por conta do aumento do número de brasileiros fazendo pós-graduação no país com notas de exames como o Enem, por exemplo, houve um aumento da xenofobia contra os imigrantes:
“Nas universidades, a gente percebe o crescimento do preconceito contra os imigrantes. Houve, inclusive, uma investigação na Universidade de Lisboa envolvendo atos xenofóbicos. Também ser brasileiro ou de qualquer outra nacionalidade na prestação de serviços a xenofobia é constante. Há essa ideia de que quem está servindo é de uma classe inferior”, lamenta.
O governo português também enfrenta dificuldades em frear a febre de compras que impulsionou os preços imobiliários, enquanto a oferta limitada não consegue avançar em ritmo semelhante. O custo das residências em Portugal subiu 6,2% em fevereiro na comparação com o mesmo período do ano passado, para um recorde 2.600 euros por metro quadrado, de acordo com dados da plataforma Idealista. O valor na região metropolitana de Lisboa chega 3.617 euros o m2. A jornalista gaúcha Gabriela Zotti, que mora desde 2019 em Portugal, ressalta que o alto custo de vida pode ser uma barreira para se manter no país quando o salário-mínimo é de 800 euros.
“Os grandes centros do país, que são Lisboa, Porto e as regiões metropolitanas, são certamente as mais caras e onde o migrante procura morar em razão da disponibilidade de trabalhar. Os aluguéis ficaram muito caros e em descompasso na comparação com o salário médio de Portugal”.
A crise habitacional, os baixos salários, a corrupção e a imigração estiveram entre os principais pontos de debate da campanha.