“Duna: Parte 2” estreou nos cinemas nesta quinta-feira, mas já faz história como ‘o melhor filme de todos os tempos’. A segunda parte da saga de ficção estrelada por Timothée Chalamet e Zendaya recebeu classificação média de 9,4 no IMDB, a mais alta já registrada em uma das principais plataformas de críticas de filmes e séries.
Pra se ter uma ideia, “Vingadores: Ultimato”, filme que reúne os super-heróis da Marvel, levou o maior número de brasileiros aos cinemas e recebeu 8,4 de pontuação. “Duna: Parte 2” desbancou “Um sonho de liberdade”, que ocupava a primeira posição com 9,3, e clássicos como “O poderoso chefão” e “Batman: o cavaleiro das trevas”.
Fã de “Duna”, o engenheiro da computação e cinéfilo Pedro Wagner defende o sucesso da sequência. “Em círculos literários, de ficção científica ou nerds, Duna é tipo o Senhor dos Anéis, um ‘livrão’ de fantasia que passou muito tempo sem nenhuma adaptação cinematográfica. Os fãs estão há muito tempo esperando por um filme de respeito e esse parece ser o filme. O primeiro já foi bom, o segundo, pelos rumores até agora, é melhor ainda. E é um filme que você precisa ver no cinema, você precisa da experiência. É um filme que está bem cotado pela crítica, é um filme que, enfim, tem tudo dar certo. Vai ser um sucesso”, acredita ele.
Apesar do sucesso da crítica e da ansiedade dos fãs, os números do primeiro Duna não foram tão surpreendentes assim. No Brasil, menos de 800 mil pessoas foram aos cinemas assistir ao filme. Mas não é um caso isolado.
O terceiro filme do spin-off de Harry Potter, “Animais Fantásticos: Os segredos de Dumbledore”, lançado em 2022, levou pouco mais de 2 milhões e meio de espectadores aos cinemas, enquanto a saga do bruxo, que terminou em 2011, teve um público de mais de 34 milhões de espectadores no país. A nova saga, que teria um quarto filme, ainda não iniciou as produções por conta da incerteza da sua continuidade. O mesmo aconteceu com os últimos lançamentos de “Star Wars”. Em 2018, “Han Solo: Uma História Star Wars”, filme derivado de Guerra nas Estrelas, teve o pior desempenho da saga, contabilizando pouco mais de 700 mil espectadores.
Na última década, as histórias de heróis dominaram as salas de cinema, mas a Marvel, protagonista desse filão, também enfrenta uma crise de bilheteria. Desde que foi comprada pela Disney, o estúdio lançou 33 filmes e faturou mais de 30 bilhões de dólares – sendo o maior sucesso “Vingadores: Ultimato”, que levou sozinho, em 2019, quase 20 milhões de brasileiros aos cinemas. Mas, nos últimos anos, tem amargado fracassos como “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” e o mais recente lançamento, “Madame Teia”.
Sagas em risco?
Olhando para esses números, fica a pergunta: estariam as sagas em risco de extinção? O jornalista e crítico de cinema Francisco Carbone acredita que o verdadeiro vilão é a fórmula dos roteiros, que já cansou. “Existe um sucateamento da fórmula, que está muito repetida. Você vai ver um filme como Madame Teia e é a mesma história de origem do herói que a gente acompanha há 20, 25 anos. Não tem muita coisa de substância pra se extrair dessa fórmula. Não teve uma mudança. O que vai sobressair agora é o que for muito diferente, muito fora da casinha”, afirma ele.
Para o jornalista e cinéfilo João Luiz, a ambição por lançamentos tornou os roteiros genéricos. “O cenário hoje é que você tem um mercado saturado e você tem má vontade do público em relação a franquias e filmes, mas os estúdios continuam produzindo filmes, vários deles muito ruins. Só que, por eles serem muito caros, você acaba tirando o controle dos roteiristas e diretores realmente criativos, e passando para executivos de estúdio que querem fazer o filme mais genérico possível para atingir o maior público possível, então não tem nada tão autoral ou criativo. Eu acho que a solução é a mais simples de todas, voltar a fazer bons filmes. Duna faz sucesso porque você tem um diretor extremamente competente que teve a liberdade para poder fazer o filme que ele quer. As pessoas não estão cansadas de super-heróis, de franquias ou de grandes produções. As pessoas estão cansadas de um grande volume de filmes ruins que querem oferecer espetáculo, mas que não têm alma”, diz.
Na tentativa de reconquistar espaço, os estúdios tentaram inovar e levaram os personagens para o streaming, em formato de séries. Os super-heróis menos conhecidos ganharam protagonismo em “Wandavision” e “Loki”, e os personagens coadjuvantes de Star Wars se destacaram em “Mandalorian”, na Disney+. Harry Potter também já tem série prevista para estrear em 2026.
Para o diretor e roteirista Marcos Bersntein, a mudança no formato barateia os custos de produção e pode trazer “novos ares” para as histórias. “Quando o cinema começa a ficar menos rentável, me parece um caminho natural essa exploração dos streamings ou da TV para tentar criar uma equação econômica. Normalmente, o custo por minuto desses formatos, é bem menor. É um trabalho com personagens, com cenas dramáticas, mesmo quando o gênero é mais ação. Você explora o que se chama de propriedade intelectual, que é o conhecimento do público de uma determinada marca ou personagem. Você explora de outra maneira e ganha a possibilidade de ter um outro tipo de receita”, defende.
O cineasta e crítico do site Depois do Cinema Pedro Guedes acredita que o caminho é uma redução de custos e um maior espaçamento entre os lançamentos pra grande tela. “O ano de 2025, que vai trazer Quarteto Fantástico, Superman, Batman, Jurassic World, vai ser decisivo, vai dizer muita coisa pra gente. Mas eu acho que a diminuição nos orçamentos de algumas dessas produções e o maior espaçamento entre um lançamento e outro vão ser questões fundamentais. A primeira, pra não acarretar em prejuízos desnecessários nas bilheterias, e a segunda, pra não saturar o público. Não por coincidência, o universo compartilhado da Marvel só vai ter um único lançamento agora em 2024, que vai ser o Deadpool 3”, explica.
Fato é que os fãs estão órfãos de grandes sagas, à espera de um novo universo que faça eles enfrentarem filas quilométricas e assistir estreias à meia-noite.