Um novo estudo mostra que, até 2050, mais de três quartos dos países não terão taxas de fertilidades altas suficientes para sustentar o tamanho da população ao longo do tempo. Até 2100, esse número aumentará para 97% dos países. As estimativas foram publicadas nesta quarta-feira (20), na renomada revista científica The Lancet.
Por outro lado, países de baixo rendimento, principalmente da África Subsaariana ocidental e oriental, terão taxas de fertilidade elevadas, o que deve continuar impulsionando o aumento populacional nesses locais ao longo do século. De acordo com o estudo, essa divisão demográfica no mundo poderá ter enormes consequências para as economias e as sociedades.
A pesquisa apresenta estimativas do Estudo Global de Carga de Doenças, Lesões e Fatores de Risco (GBD) 2021, uma pesquisa global liderada pelo Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde (IHME) da Escola de Medicina da Universidade de Washington. Essas estimativas mostram as tendências de agora e do futuro regionais, nacionais e globais em fertilidade e nativos vivos.
Em geral, os países precisam de ter uma taxa de fertilidade total (TFT) de 2,1 crianças por pessoa para sustentar a substituição geracional da população a longo prazo. A TFT de uma população é obtida através do número médio de filhos que nascem de uma mulher ao longo da vida.
De acordo com o estudo, o número de países e territórios com uma taxa de fertilidade total insustentável para a substituição da população chegará a 198, representando 97% das nações e territórios do mundo. Isso significa que, nestes locais, as populações diminuirão, a menos que a baixa fertilidade seja compensada por uma imigração eficaz ou por políticas que ofereçam maior apoio aos pais.
Para os autores do estudo, essas novas previsões reforçam os desafios ao crescimento econômico de países de rendimento médio e alto, com uma força de trabalho cada vez menor e um fardo crescente sobre os sistemas de saúde e de segurança social de uma população envelhecida.
Contraste demográfico com países de baixa renda
O novo estudo também prevê grandes mudanças no padrão global de nascimentos vivos de países de rendimento mais elevado para países de baixa renda. Em 2021, 29% dos bebês do mundo nasceram na África Subsaariana. Segundo a análise, a estimativa é que esse número aumente para mais da metade (54%) de todos os bebês, ressaltando a necessidade de melhorias no acesso a métodos contraceptivos e a educação feminina nesses países.
“Estamos enfrentando mudanças sociais surpreendentes ao longo do século 21”, afirma o autor sênior do estudo, Stein Emil Vollset, do professor do IHME. “O mundo enfrentará simultaneamente um ‘baby boom‘ em alguns países e um ‘baby bust‘ em outros”, completa.
“Enquanto a maior parte do mundo enfrenta sérios desafios ao crescimento econômico em meio a uma força de trabalho em redução e a forma de cuidar e pagar por populações envelhecidas, muitos dos países com recursos mais limitados na África Subsaariana estarão debatendo sobre como apoiar a população mais jovem e de crescimento mais rápido do planeta em alguns dos sistemas de saúde mais instáveis política e economicamente”, analisa Vollset.
Para Natalia V. Bhattacharjee, coautora do estudo e cientista principal de pesquisa do IHME, essas tendências futuras nas taxas de fertilidade e nascimentos vivos “reconfigurarão completamente a economia global e o equilíbrio internacional de poder e exigirão reorganizar as sociedades”.
Fertilidade em queda em todo o mundo
Ainda de acordo com o estudo, a taxa de fertilidade total global caiu para mais da metade nos últimos 70 anos. Em 1950, essa taxa era de cerca de cinco filhos para cada mulher. Em 2021, passou para 2,2 filhos por mulher. A tendência é particularmente preocupante na Coreia do Sul e na Sérvia, onde a taxa é inferior a 1,1 filhos.
Na África Subsaariana, as taxas de fertilidade permanecem elevadas, com quatro filhos por mulher em 2021, quase o dobro da média global. No Chade, a taxa de fertilidade total é a maior do mundo, com sete nascimentos por mulher.
A análise também prevê que a fertilidade global diminuirá ainda mais, atingindo uma taxa de fertilidade total de cerca de 1,8 em 2050 e 1,6 em 2100. Até lá, apenas seis dos 204 países e territórios (Samoa, Somália, Tonga, Níger, Chade, e Tajiquistão) deverão ter taxas de fertilidade superiores a 2,1 nascimentos por mulher. Em 13 países, incluindo o Butão, o Bangladesh, o Nepal e a Arábia Saudita, prevê-se que as taxas caiam para menos de um filho por mulher.
Para somar, a maior parte do mundo está em transição para um declínio natural da população (quando o número de mortes excede o número de nascidos vivos): a previsão é de que apenas 26 países continuem registrando um crescimento populacional em 2100, com o número de recém-nascidos superando o número de mortes, incluindo Angola, Zâmbia e Uganda.
“Em muitos aspectos, a queda nas taxas de fertilidade é uma história de sucesso, refletindo não só uma contracepção melhor e mais facilmente disponível, mas também muitas mulheres que optam por adiar ou ter menos filhos, bem como mais oportunidades de educação e emprego”, analisa Vollset.
A análise sugere que são necessários esforços para acelerar o acesso a contraceptivos modernos e à educação feminina para ajudar a acelerar o declínio da fertilidade e reduzir as taxas de natalidade em países com maior fertilidade.
Além disso, o estudo também examinou o impacto de políticas pró-natais para fornecer apoio financeiro e cuidados às crianças e às famílias poderiam ter no aumento das taxas de fertilidade em países em que o nível de fertilidade baixo. Com base nos dados existentes de países que já implementaram essas políticas, os resultados sugerem que essas medidas podem impedir que algumas nações tenham quedas extremamente baixas nas taxas de fertilidade.